segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Harakiri
Vestido de branco, já bebi meus dois goles cerimoniais de saquê. Preparei a lâmina afiada com que porei fim a toda a desonra. Não esperarei mais. Me ajoelharei, erguerei a espada e com um golpe certeiro serei destituído do sopro de vida com que fui agraciado. A desonra não assolará mais a minha família.
- Ok, Peçanha. Já sabemos que você é um cãozinho culto. Agora deixe esse livro sobre samurais de lado e vá dormir, que amanhã tenho que levá-lo ao petshop.
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Treco de guardar tristeza
Trago um treco daqueles de guardar tristeza,
trago-o com trocadilhos e tropeços,
trovo como um poeta bardo.
Troco-o por trapézios infindáveis,
infinito vou me cobrando
e redobrando e trocando tudo
e sem trapacear vou me carcomindo em vielas, inconfiáveis..
e sem solução
e te beijo
e me beija
e o cotidiano
e o cartão postal?
e a vida
e a criança e o relógio. e o semáforo?
Nele paro. Vermelho. Fim.
Destroco tudo e pego de volta o meu treco de guardar tristezas.
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Empoeirado de poesia
Às vezes pela manhã, no frio da manhã e do vazio que só a manhã tem, rasgo poesias
e o vento empoeirado carrega os fragmentos, quando há,
para bem longe de você.
E me lembro e me esqueço
E me lembro e esqueço
E esqueço
E empoeirado vou ficando por aqui, rasgando poesia que longe de você não será entendida.
quinta-feira, 28 de junho de 2012
Ao seu lado
Era de papel um sentimento por mim,
E era perecível, e era oportuno,
No relógio ainda faltavam dez minutos e o dia não havia passado.
Eu não era namorado, era enamorado e sofria e ruía.
Nunca ouvi uma verdade só minha e era de papel
e era perecível e era oportuno,
No relógio a hora já fora dada, pelo tempo maior
E eu não ouvia, e não queria, então sofria e me despedaçava.
Eu caminhava em direção a você que era o Sol do país das maravilhas,
e lá me perdia
me doava.
Eu não mais caminhava, pois o que tinha não bastava. E não me basto em mim mesmo.
Eu era de papel. Eu pereci. Eu não fui oportuno. E o relógio nem hora mais tem.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Poema sem poesia
Isto era para ser um poema.
Mas por falta de poesia foi suspenso.
Talvez não penso e nem rima posso fazer.
Se não sei fazer rima, a métrica também perdi,
assim como me perdi em você,
assim como, sem nunca ter ganho, te perdi.
Perdi para uma infelicidade disfarçada de futuro.
E meu futuro ficou a vagar,
disfarçado de esperança.
Um poeta disse que quem acredita sempre alcança,
mas a vida não espera e nem eu acredito,
pois acreditar faz doer uma dor invisível,
que desatina sem doer e aos poucos, sem você, me faz morrer,
como morreu Álvares de Azevedo,
como morreu Camões.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Cansaço das horas tuas
Tem horas em que o coração cansa, mesmo sem querer descansar;
Tem horas em que tudo que era pertinente é apenas vão, é em vão;
E o valor das horas que eram tuas, passam por mim como ventos, sem destino e sem mais ilusão.
E sem valentia ou impetuoso em excesso, não conto mais sentir;
Tem horas em que o mesmo cansaço me incute vontade, e o que era amor se faz irmandade;
Tem horas que o que era pertinente deixa-o de ser, fazendo-se sentir como lealdade.
E as horas tuas passam, sob meu olhar impedido de tocar;
E as horas minhas, misturam-se às tuas, sob teu olhar de enigma;
E tudo, neste cansaço das horas tuas: destino, ilusão, irmandade, lealdade e coração
em vão,
vão se perdendo, nos anos perdidos, que novamente, se vão,
neste vão (do cansaço das horas tuas) sendo meu e teu destino, ilusão.
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