segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Indo

Indo a contragosto
Por gotas de passos
Destes que me chovem por dentro 
Indo a contragosto 
Por incoveniências respingadas
Destas que garoam em mim
Indo a contragosto por vielas
Inúmeras vielas
Destas que nos socorrem no desespero do viver
Indo a contragosto 
Pelo caminho do meu fim
Incerto fim
Destes que são dali a pouco
Ou sei lá 
Indo a contragosto amar
Indo a contragosto odiar
Indo a contragosto não me ser
Indo, sempre indo

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Eu, nuvem negra

Nasci e por aí me fui.
Como uma nuvem negra.
Das de chuva.
Chuva esperada.
Chuva inesperada.

Nuvem negra.
De chuva que molha lavoura.
Nuvem negra de chuva forte.
Nuvem negra de chuva que nem chove. 
Nuvem de chuva.
Só de chuva.

Nasci ali
e por aí fui.
Do lado do rio.
E do lado do rio vivo.
Ali fui. Ali cresci.
Ali me apaixonei: Chovi.
Ali casei.
Ali fui e serei chuva.
Chuva incerta.

sábado, 16 de maio de 2015

Dias passando...

Aqueles dias iam passando de uma maneira rancorosa, com um cheiro fisgado e um silêncio que não era meu. Iam passando arrastados e acelerados, paradoxalmente ao mesmo tempo. Eram inconsistentes e rudes, apaixonados e odiosos, eram mais que dias e eram menos que dias. Não tinham mais definição ou cor. Não tinham mais nem o ranço da vida. Iam passando sem sorriso. Iam passando com um suor incruento e sem glória...
É... Os dias iam passando. E eu, nem mesmo estava lá...

sábado, 14 de março de 2015

Tempo que temos

Temos um tempo 
Um tempo só 
Temos um tempo sem vazio
Temos um tempo sem culpas e sem apontamentos 
Temos um tempo atemporal 
Temos um tempo para ser bobos
Temos um tempo para admirar jardins e suas borboletas
Temos um tempo para ser nós mesmos
Temos um tempo
Tempo que não passa
Tempo que não vai passar
Meu tempo
Seu tempo
Temos
Um tempo. Só um.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Theodoro

Theodoro ia por ali
Em seu azul...
Voando e sendo sonho
Theodoro ia sendo sendo céu 
Ia sendo seu e meu
Ia sendo símbolo de amor
Theodoro ia sendo sem explicação 
Ia sendo
Ia batendo asas brancas
Ia sendo em seu azul
Theodoro veio por ali
Chegou como não quisesse e ficou
E foi sendo feliz assim,
O Theodoro...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Peso do mundo

Na cidade acontecem coisas
Coisas acontecem na cidade
Inexplicantes acontecidas coisas insistem e desacontecem
Na cidade coisinhas importantes acontecem
Encontros, desencontros 
Acontecem
Sem rima, sem regra
Sem o peso do
Mundo
Coisificado
Inexplicante
Na cidade, ama-se
Ama-se na cidade
Na cidade nos humanizamos
Nos desregramos por sobre pedras
Todas testemunhas
Nos desregramos e amamos
Porque na cidade, coisas acontecem
E se ama na cidade
Sem o peso
Do
Mundo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A poesia

Ah, a poesia
A poesia tem cheiro de saudade
Tem cheiro de chuva
Cheiro de lágrimas 
Ah, a poesia
A poesia tem semblante de quem ama
Tem semblante de urgência 
Semblante de distância 
Ah, a poesia
A poesia voa como um João-de-barro 
Voa como uma borboleta 
Voa, como o tempo.